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Acesso em 30/06/2025 às 10h10.

Última safra da soja em Rondônia movimenta quase 300 milhões

20 de dezembro de 2012, às 9h00 - Tempo de leitura aproximado: 10 minutos

Mesmo sendo uma das maiores produções do paíso transporte, as  pragas e os impostos marcam pontos negativos

   O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja. O grão está presente do Sul ao Norte do país e já se adaptou aos mais diferenciados tipos de clima. Utilizadaprincipalmente na fabricação de ração de animais e na produção de combustível, a soja tem outras diversas utilidades, como na alimentação humana. São produzidas carnes, leites e seus derivados e outros.   Em Rondônia oplantio da soja iniciou em 1982, no município de Vilhena, com o cultivo de 60 hectares, por dois produtores pioneiros. Dois anos depois, a Embrapa lançou a primeira recomendação para a cultura no estado, se espalhando por outros municípios desde então.

   Com a pavimentação da principal rodovia, BR 364, a cultura foi impulsionada fazendo com que mais produtores apostassem no grão. Porém a localização do Estado frente ao centro consumidor da Soja no país, em 1995, foi um grande obstáculo enfrentado, para aquecer os negócios. O preço da soja rondoniense nesta época era menos da metade do valor médio da soja em outras cidades, devido o preço do frete. O transporte era todo rodoviário e a produção seguia para o Sul e Sudeste.

   A partir de 1997 a exportação da soja passou também a ser pela via fluvial que seguia de Porto Velho até Itacoatiara, e isto proporcionou uma redução no custo do transporte, melhorando a logística da soja no estado. Em 2001, iniciaram as exportações do Rio Madeira até Santarém, no Pará. Com todo o avanço, hoje a soja vem se fortalecendo no estado e já é o principal grão cultivado no estado.

   Segundo informações do Governo do Estado, Rondônia possui um potencial entre um milhão e dois milhões de hectares de terras aptas a produção de soja livre não transgênica. Essa oleaginosa desenvolvida em Rondônia e adaptada ao clima da região apresenta excelente produtividade. 

   Um estudo realizado pela Embrapa mostra que Rondônia possui entre seis e sete milhões de hectares de terras em processo de degradação. No entanto, grandes partes destas áreas apresentam condições de recuperação por meio de manejo adequado, curva de nível e cultivo de uma das 18 cultivares de soja livre desenvolvida pela Embrapa. 

A produção

   Dados do IBGE mostram que a produção de soja na safra 2010-2011, no Estado foi de 419.522 toneladas, movimentando R$ 274 milhões. A safra 2011-2012 está sendo colhida. No entanto, com as cultivares de soja não transgênica a produção pode triplicar em curto espaço de tempo. Em Mato grosso e no Rio Grande do Sul, por exemplo, a produção média gira em torno de 2.500 quilos por hectare de lavoura cultivada. Em Rondônia um hectare de soja produz em média 3.125 quilos. Em reportagem ao site Noticias Agrícolas, o pesquisador da Embrapa em Rondônia, engenheiro agrônomo Vicente Godinho, declarou que a soja “entra como um componente importante para viabilidade econômica na recuperação de áreas e pastagens degradadas, participando na rotação com outras culturas.

   Ele comenta que a estrutura agrária de Rondônia não apresenta propriedades extensas com áreas para a produção de Soja, mas tem um perfil fundiário semelhante ao Rio Grande do Sul, com pequenas e médias propriedades. Ainda conforme dados do IBGE o Estado de Rondônia, é responsável por 25% da produção de grãos do País. E estudos da Embrapa afirmam que o estado faz o manejo e aproveitamento correto do solo.

Já o Anuário Estatístico do Brasil a produção estadual da última safra foi de 446.000 toneladas, ocupando aproximadamente 147 mil hectares, ou apenas 0,62% do estado.

Veja a progressão na tabela abaixo:

 

Produção, área e rendimento da cultura da soja no Estado de Rondônia, no período de 1985 a 2011/12.

 

ano

produção (t)

área (ha)

rendimento (kg/ha)

1985

677

811

835

1986

1.160

800

1.450

1987

2.050

980

2.092

1988

9.666

4.620

2.092

1989

18.310

9.170

1.997

1990

9.252

4.640

1.994

1991

1.932

940

2.055

1992

9.852

4.140

2.380

1993

10.852

5.140

2.111

1994

11.052

4.640

2.382

1995

10.800

4.500

2.400

1996

11.250

4.500

2.500

1997

11.610

4.300

2.700

1998

24.300

9.000

2.700

1999

35.400

11.800

3.000

2000

75.500

25.000

3.000

2001

93.000

31.000

3.000

2002

120.000

40.000

3.000

2003

175.185

58.643

2.987

2004

264.907

82.680

3.204

2005

257.544

102.200

2.520

2006

277.500

90.400

3.060

2007

311.500

99.800

3.120

2008

320.045

108.000

2.960

2009

326.500

122.300

3.080

2010

425.300

132.300

3.215

2011

446.000

147.400

3.026

Fonte: Anuário Estatístico do Brasil

 

Esta outra tabela da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostra o plantio da soja nos estados da Amazônia

 

UF

Área (1.000 ha)

Soja (1.000 ha)

% área com soja

AC

15.315

0,0

0,0

AP

14.345

0,0

0,0

AM

157.782

0,0

0,0

PA

125.316

105,7

0,1

RO

23.851

147,4

0,6

RR

22.511

3,7

0,0

TO

27.842

444,4

1,6

MT

90.680

6.929,9

7,6

MA

33.336

584,5

1,8

TOTAL

510.981

8.215,6

1,6

Conab, 2012.

Escoamento e prejuízos

   Segundo o coordenador da Comissão de Logística e Estratégias de Desenvolvimento da Associação dos Produtores de Milho de Mato Grosso (Aprosoja), José Rezende da Silva, pouco mais de três milhões de toneladas de soja que saem de Mato Grosso ganham como destino o mercado internacional por meio do porto instalado na capital do estado de Rondônia, em Porto Velho. O volume representa cerca de 15% da produção total da oleaginosa no estado, segundo explica. A unidade é opção para escoamento da produção principalmente de municípios na faixa Oeste de Mato Grosso porque está mais próxima do estado vizinho.

   Mesmo com todo o desenvolvimento que o grão traz, seu escoamento tem causado transtornos. De acordo com o coordenador da Câmara Especializada de Agronomia, o agrônomo Roberto Santiago, o tráfego pesado de veículos que transportam granéis agrícolas entre as áreas produtoras no sul de Rondônia e no estado do Mato Grosso pelas vias urbanas de Porto Velho, tem ocasionado conflitos com o tráfego urbano local e, consequentemente, um aumento nos riscos de acidentes. “São constantes as reclamações em relação à rodovia, que se tornou uma das mais importantes do país. A BR é caminho para o intenso fluxo de carretas que trafegam para escoar boa parte da soja brasileira, principalmente a que é produzida no estado de Mato Grosso.” disse o coordenador.

   Outro ponto citado são os danos à pavimentação asfáltica. São toneladas e toneladas transportadas e a manutenção não acontece com a mesma freqüência do tráfego. Em relação ao tráfego dos veículos, uma das medidas que está sendo tomada para minimizar esses impactos negativos é a construção de um novo terminal portuário privativo da Amaggi Exportação e Importação. O projeto está em tramitação na Secretária Estadual do Meio Ambiente (Sedam) para implantação deste novo terminal portuário que causará redução no tráfego de caminhões graneleiros nas vias urbanas do município de Porto Velho e aos danos causados nas vias pelo intenso fluxo de cargas pesadas, geração de empregos, dinamização da economia e geração de receitas. Outro problema é a quantidade de grãos que caem das carretas, que sujam o percurso e quando não recolhidos deixam odores.

Economia

   A soja permite a economia no uso de adubos derivados de fontes não renováveis, através da fixação biológica do nitrogênio. E, ainda, possibilita a recuperação de pastagens, a intensificação do uso da terra, possibilitando o aumento da produção por unidade de área e redução da pressão sobre a floresta. Por ser intensivo no uso de tecnologia, o agronegócio da soja movimenta importante cadeia de fornecedores de insumo e tecnologia, gerando emprego e renda. Em 2011, pelo porto de Porto Velho foi escoado um volume substancial da soja brasileira exportada, principalmente oriunda do Mato Grosso.

Pontos negativos

   Um aspecto pouco lembrado é o efeito negativo da soja na economia das regiões onde é produzida ou por onde é transportada. A exportação via Porto Velho envolve dezenas de milhares de carretas (Bitrem e Rodotrem) com consumo médio de cerca de 630 litros, ou seja, R$ 1.300,00 de óleo diesel por viagem, abastecidos nos postos de combustíveis entre Vilhena e Porto Velho. Sobre o diesel consumido incide alguns impostos:

Imposto diesel

R$/litro

CIDE

0,0700

PIS/COFINS

0,1480

ICMS

0,3454

cide+pis/cofins+icms

0,5634

   Assim grande parte do recolhimento de impostos recolhidos aos cofres do estado são oriundos da tributação de combustível que abastece a frota transportadora e produtora de soja. No entanto, é criticada por outros pela concentração de riquezas que promove e pela baixa geração de emprego e renda aos municípios onde germina. Em termos relativos, o número de trabalhadores no campo registrou queda de quase 20% do total da força de trabalho brasileira, conforme indicadores recentes. Especialistas atribuem essa queda ao avanço da soja em campos antes destinados à agricultura familiar ou a produtores tradicionais e extrativistas.

   Margarido Valentim Rodrigues, Engenheiro Agrônomo e Fiscal de Defesa Agrossilvopastoril do município de Vilhena,confirma que nem tudo são flores. Ele explica que na última década, um dos problemas centrais com que se defrontou o sojicultor foi a introdução de uma doença denominada ferrugem asiática da soja. “Esta doença é provocada por um fungo que possui potencial de reduzir significativamente a produtividade final, dependendo das condições climáticas, do manejo da cultura e do controle fitossanitário”, comenta.

   Segundo Valentim o agricultor da região aprendeu a conviver com a doença. Após sua introdução na região- meados da década passada – houve uma enorme preocupação com os efeitos da ferrugem asiática da soja. “Imaginava-se que os dias de plantio de soja na região estariam contados. Contudo, a pesquisa brasileira trabalhou rápido para apresentar aos sojicultores uma ampla gama de possibilidades de controle da doença, através de fungicidas. Hoje, sob esse aspecto, o problema está bem controlado e a ferrugem asiática não tem contribuído para reduzir a produtividade no Cone Sul de Rondônia”, disse.

Mercado Promissor

   Apesar de o país ser um dos maiores produtores mundiais de grãos de soja, o consumo da soja no Brasil praticamente se restringe ao óleo. Mas este grão é considerado pelos especialistas como uma pequena maravilha do reino vegetal, e que proporciona inúmeros derivados alimentícios ricos em nutrientes saudáveis. É um dos alimentos mais completos e versáteis que o homem conhece. Considerada um alimento funcional, fornece nutrientes ao organismo e traz benefícios para a saúde.

   Vários estudos têm demonstrado que o consumo de produtos derivados da soja está frequentemente associado com a redução do risco de inúmeras doenças, tais como câncer de esôfago, pulmão, próstata, mama e cólon retal, doenças cardiovasculares, osteoporose, diabetes, mal de Alzheimer e sintomas da menopausa. Estudos demonstram que, além de possuir alto valor nutricional, a soja auxilia na prevenção de doenças cardiovasculares, câncer, osteoporose e diabetes.

Por Natália Lima