Estudantes destacam importância da multidisciplinaridade das profissões e dos agentes públicos
21 de junho de 2012, às 17h50 - Tempo de leitura aproximado: 5 minutos
Com credencial de diplomata, universitários de reconhecidas instituições de ensino internacionais participam da Rio+20 assessorando delegações de diversos países. A maioria deles ressalta a importância da multidisciplinaridade das profissões e agentes públicos para as discussões da Rio+20 e de demais questões internacionais e ambientais.
“Advogados, economistas, diplomatas, engenheiros e agrônomos e diversos outros cientistas devem cooperar”, afirma um dos estudantes consultados, Luke Kemp. Já na opinião da estudante Naazia Ebrahim, os setores que mais devem cooperar são os políticos, as ONGs e demais órgãos de lobby ambiental, agências de regulação, planejadores urbanos e agricultores. “Você precisa da Ciência, claro, mas também das pessoas capazes de implementação”, afirma.
Coordenador da delegação de 16 universitários da Universidade Nacional da Austrália (ANU – Australia National University), o cientista político Luke Kemp, de 22 anos, alerta para a diferença entre os termos em inglês “politics” e”policy”, algo em português como política e políticas públicas, respectivamente. “Os governantes precisam ter mais ambição nas causas comuns e colocar as ideologias de lado. Mas os políticos são limitados pelo que as pessoas querem. Talvez ajudaria se os líderes, além da ética, claro, também tivessem profissões técnicas”, menciona.
Kemp participa da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável – Rio+20 – para realizar entrevistas para o seu trabalho de PhD em Governança Ambiental. “Estudo as possibilidades de novos modelos para o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). Estou aqui verificando se é válido o programa se tornar uma agência permanente para o meio ambiente mundial. Aqui no Rio de Janeiro, acompanhando as reuniões, comparo o que venho estudando, o que acredito serem os modelos ideais, com o que de fato ocorre”, explicou.
A criação de um órgão nesse formato ocorreria por meio de uma convenção. “O acordo que surgir aqui na Rio+20 pode servir como instrumento para que, no futuro, se faça uma outra conferência dessa com o intuito de haver uma convenção para a criação de um órgão ambiental mundial, nos moldes da Organização Mundial da Saúde (OMS)”, explicou, ao completar que provavelmente os Estados Unidos não ratificariam uma convenção desse tipo no contexto de hoje, colocando a legitimidade do documento em cheque. “Outro impeditivo são os países que temem que uma OMA (Organização Mundial Ambiental) possa ser uma nova OMC (Organização Mundial do Comércio), com regras rígidas e penalidades”, explicou, ao concluir que uma convenção nesse sentido, se aprovada agora, seria fraca e pouco efetiva.
Apesar de não ser a favor da criação de um órgão permanente específico neste momento, Kemp tem críticas ao texto atual do acordo da Rio+20, que está sendo elaborado. “O Pnuma precisa de mais fontes de financiamento e no texto que está em discussão não há garantias para isso, não há mecanismos pré-estabelecidos”. Para ele, o Pnuma deveria ser o órgão a coordenar e sistematizar todos os documentos internacionais – tratados, convenções, protocolos, acordos, etc – que versem sobre meio
ambiente. “Tudo o que o texto diz, até agora, é que esses documentos têm que ter sinergia entre si. Mas não estabelece como”, afirmou.
A engenheira em nanotecnologia e a atual mestranda da Yale School of Forestry and Environmental Studies (Escola de Silvicultura e Estudos Ambientais da Universidade de Yale – EUA), a canadense Naazia Ebrahim e a americana Karly McIlwain fazem parte da Delegação da Universidade de Yale que veio à Rio+20 com cerca de 40 estudantes e ambas assessoram o grupo das Ilhas Marshall, acompanhando as negociações do acordo que deve ser assinado até o fim do evento, mantendo os líderes informados sobre as alterações que vão ocorrendo, fazendo pesquisas que os líderes possam vir a necessitar na última hora, preparando discursos, etc.
Karly McIlwain tem 26 anos e, antes de começar seu mestrado na Yale School of Forestry and Environmental Studies era pesquisadora e analista para uma empresa que desenvolve sistemas de gerenciamento de pesca. Para ela, a Rio+20 não está sendo tão produtiva quanto poderia. “Em 1992, nós tivemos três convenções. E agora teremos, talvez, um acordo. Os documentos não são tão fortes dessa vez, não preveem ação e estão revendo o passado. Mas a sociedade civil está participando ativamente e aproveitando a oportunidade. Então, não é só lado ruim”, critica.
O cientista político australiano Luke Kemp lembra que havia no texto a ideia de se instaurar no Sistema ONU uma alta comissão para jovens, de forma que esses tivessem um fórum permanente para tratar de assuntos como meio ambiente e outros. “Mas tiraram esse parágrafo. Estamos trabalhando para ver se conseguimos incluir novamente”.
No Brasil, o Sistema Confea/Crea conta com um fórum formado por estudantes e profissionais recém-formados das áreas tecnológicas, chamado Confea Jovem. Os integrantes do grupo, a exemplo dos estudantes estrangeiros participantes da Rio+20, podem focar e aprofundar suas atividades a partir das resoluções tomadas durante a Rio+20, com vistas a preencher as lacunas que serão formadas pelo documento assinado no Rio de Janeiro.